quarta-feira, 26 de julho de 2017

1.º ano com 5 ou com 6 anos

Sei que é feio ouvir a conversa das outras pessoas, mas quando estamos numa fila, num espaço pequeno, mesmo não querendo acabamos por ouvir algo que não nos diz respeito. O problema centrou-se no exato momento em que oiço dizer "ah, a professora do meu também propôs isso, mas matriculamo-lo na mesma no 1.º ano".
Defeito de profissão, chamemos-lhe isso, fiquei com o radar sintonizado. Feio, admito, mas curiosa.
Resumidamente, a conversa entre dois pais centrava-se na temática de inscrever ou não os filhos no 1.º ano com 5 anos. Pelos vistos as Educadoras de ambas as crianças propuseram aos pais a frequência de mais um ano no Jardim de Infância de forma a entrarem no 1.º ano com 6 anos, a caminho dos 7.
Enquanto um dos pais aceitou a proposta da Educadora de Infância e deixou o filho mais um ano no Jardim de Infância, alegando que considerava que agora o filho tinha maturidade para fazer uma boa aprendizagem, o outro pai manifestava opinião contrária, dizendo que o filho iria entrar com 5 anos porque estava curioso para aprender, apesar de só fazer os 6 anos em novembro. "Dificuldades? Estaremos lá para apoiar."

Este assunto é debatido todos os anos com os Encarregados de Educação, Educadoras de Infância e Professores do 1.º ciclo. Qual a melhor decisão: permanecer mais um ano no Jardim de Infância, brincando e ganhando maturidade ou matricular a criança no 1.º ano, uma vez que entre um a dois meses fará os 6 anos?
Muitos Encarregados de Educação, pais, avós, ... consideram que o facto de a criança entrar para o 1.º no com seis anos a fazer os sete entre outubro, novembro ou até dezembro, esta está a perder um ano de escola. Muitos Educadores e Professores consideram que é exatamente este ano que fará a diferença em sala de aula e na predisposição para aprender, sem questionar o número de horas que vai passar a estar sentado com uma ficha de trabalho à frente.
Os programas são extensos, o grau de exigência e cumprimento dos mesmos faz com que o professor tenha que "impor" um ritmo de trabalho em que muitas das vezes a criança de 5 a fazer 6, a trabalhar ao lado do colega de 6 que faz 7 em janeiro, não é de todo compatível. Procuramos criar autonomia nas crianças, mas um ano de diferença, nestas idades e nesta fase de aprendizagem, faz muita diferença.
É óbvio que há crianças que entram na escola com 5 anos (eu fui uma dessas crianças) e que fazem as aprendizagens tal como as outras crianças, e por vezes até alcançam excelentes resultados académicos.
A minha questão, e daí este meu pensamento, é apenas uma: na sociedade atual em que o tempo para brincar é pouco, tal é o elevado número de atividades que as crianças têm de frequentar face à incompatibilidade de horários de muitos pais, qual a pressa em retirar a possibilidade da criança continuar a ser criança?
É claro que as crianças aprendem, é claro que os pais estarão presentes para apoiar... mas este apoio é "uma faca de dois gumes", pois a criança habitua-se à presença de um dos pais sempre que realiza tarefas escolares e dificilmente fará as mesmas sozinha, mesmo não tendo dúvidas.
Por outro lado, pergunto: numa sociedade em que nos queixamos da imaturidade presente nas crianças em idade "desfasada" da mesma, por que não as deixamos crescer calmamente e alcançar a maturidade necessária?

segunda-feira, 26 de junho de 2017

Terminou o ano letivo

O ano letivo chega ao fim e com ele sentimos que mais qualquer coisa chega ao fim. Temos consciência de ter dado o nosso melhor, de tudo o que estava ao nosso alcance ter sido colocado em prática, de ter perdido a calma em certas situações e de ter mantido a calma noutras situações.

Todos os anos recebemos novos alunos e com eles novas experiências, novas partilhas. Conhecemos novas histórias de vida, novos colegas, novas escolas.
Iniciamos o ano com coragem e vontade de partilhar os nossos conhecimentos com aqueles ser ávidos de aprender. Aqueles olhos curiosos que invadem a sala de aula, cheios de esperança para crescer como pessoas.
É claro que todos os anos temos aquele ou aqueles alunos que nos conseguem tirar do sério e que nos fazem questionar muitas coisas. Mas os outros, aqueles que querem sugar o nosso conhecimento conseguem equilibrar os pratos da balança e, muitas vezes, quase sempre, conseguem levar o prato a bom porto.
É claro que todos os anos temos alunos excecionais em capacidades cognitivas, com excelentes resultados académicos e que nos enchem de orgulho com as suas vitórias escolares. Só quem é professor consegue entender o orgulho sentido por nós mesmos sempre que um aluno alcança bons resultados.
É claro que todos os anos temos alunos com um coração de ouro e que como seres humanos nos enchem de orgulho por podermos contribuir para aquele futuro adulto, cheio de valores.
É claro que todos os anos temos alunos que não conseguem os tais excelentes resultados académicos, mas não deixam de ser excelentes alunos. Alunos empenhados, esforçados, curiosos, educados, responsáveis e que fazem da nossa escolha profissional um orgulho.
É claro que todos os anos temos alunos que são "a nossa pedra no sapato". Conseguem tirar-nos do sério, mas também nos conseguem arrancar sorrisos, no entanto, por vezes, quando conhecemos as suas histórias, conseguem colocar um nó na nossa garganta.
Todos os anos recebemos alunos que ficam nas nossas memórias pelos mais variados motivos.

Todos os anos são uma nova história na vida do professor, com vivências únicas, com experiências pessoais que nos ajudam a crescer como pessoas e profissionais do ensino. Todos os anos sentimos orgulho dos nossos alunos e todos os anos ficamos com algo deles, mas também perdemos algo. Há alunos que não voltaremos a ver e a partilhar conhecimentos, há colegas com quem deixaremos de trabalhar, há escolas que ficarão para trás... mas o que vivemos jamais ficará esquecido.
Ser professor é isto. É partilhar, receber, dar, aceitar, viver!