terça-feira, 25 de setembro de 2012

A propósito de chuva





Hoje, quando fui para a escola, o tempo não ameaçava chuva.
Às nove da manhã longe de mim pensar que às 16h estaria chover. Se iria estar na escola o dia todo, porque é que havia de me preocupar com o guarda chuva?
O certo é que às 16h00, quando eu queria sair da escola, chovia a bom chover.
Comento, com a colega do 1.º ano, que no carro até tinha dois guarda-chuva, mas na escola, que era onde fazia falta, nada!
Nisto, uma criança, da sala da minha colega, chega junto de mim e comenta:
- Se calhar devias escrever um recado no teu caderno para não te voltares a esquecer.


Ora toma que é para ver se ganhas juízo!

Só consegui olhar para aquele rosto infantil, com 6 anos ainda mal medidos, e sorrir.
Mais uma vez tive a certeza que a perspicácia das crianças para certos comentários está muito além do que alguma vez pensámos.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

"O grilo"



Lembro-me de em criança, com os meus 6, 7 anos e talvez até mais velha, passar as noites de verão, com os outros amigos que viviam na mesma rua, nos quintais dos vizinhos com uma palha seca numa mão e um frasco na outra, a tentar apanhar grilos.
Com algum receio é verdade, não sabia se o bicho não iria saltar para cima de mim, andava feliz naquela busca pelos campos. Lembro-me também do desgosto que sentia porque depois de tanta busca nunca conseguia apanhar um.

Esta noite fui torturada!
Não sei muito bem como, porque imaginava que os grilos apenas andassem pelo chão, apesar de o meu pai me dizer que na Guiné eles (os grilos) voavam, apareceu um grilo no telhado cá de casa, que fez a gentileza de se intalar por debaixo das telhas, entre estas e as placas que forram o sótão. Cantou desalmadamente toda a noite, e quando digo toda a noite, foi mesmo toda. Eram cerca de 21h00 quando o bicho começou a cantar. Achei estranho um grilo dentro de casa, mas enfim... Comecei a busca do dito cujo, com a ajuda da minha gata Micas que estava intrigada com tal chinfrineira. Descobrimos depressa onde ele estava. No canto, junto de uma das janelas do sótão. Começa a busca. Afastar uns objetos que estavam no caminho, mas do grilo nada! A gata às tantas já estava empoleirada num móvel de patas esticadas para a forra do sótão numa ginástica que só vista.

E o grilo continuava a cantar.
Entretanto, a minha mãe que andava na rua, dá conta de um grilo a cantar e decide chamar-me. Abri a janela do sótão e disse-lhe que o grilo estava em casa. Ela dizia que estava na rua. Lá insistimos cada uma com a sua versão, e acabei por ganhar.
Eram 24h00 e o bicho ainda não se tinha calado. No piso inferior da casa ouvia-se o bicho a cantar como se estivesse dentro da gaiola com uma folha de alface, fresquinha para comer. (Este era o meu sonho de criança).

Eu já não podia com o grilo. O meu gato, Óscar, subia e descia as escadas numa tentativa frustrada de calar o bicho, também ele já estava impaciente com a musica irritante do grilo.


Por volta das 3 da manhã levantei-me para ir à casa de banho e o bicho continuava  a cantar. CREDO! Que ser mais irritante! Valeu-me a santa aurora que obrigou o bicho a dormir uma soneca!
Hoje a fazer uma pesquisa, (na famosa wikipédia),descobri que o grilo que canta e faz esta algazarra toda é o macho numa tentativa de conquistar a fêmea.
Bolas! Se ele não se vai embora esta noite, nem sei o que lhe faço! Não me parece que a fêmea esteja interessada em subir até ao telhado.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Portugal dos Pequenitos

Hoje foi dia de passeio.

Fui até Santa Clara, Coimbra, e fui visitar o Portugal dos Pequenitos.
Deveria ter cerca de 8 anos quando fui lá a última vez. Apesar de lhe chamarem Portugal dos Pequenitos, achei que era grande.
Hoje, com alguma deceção, percebi que era pequeno aos olhos do aldulto. Mas o importante é que aos olhos das crianças continua grande.

Para quem não conhece: 
"O Portugal dos Pequenitos é desde 8 de junho de 1940, data da inauguração, um parque lúdico-pedagógico destinado essencialemnte à Criança.
Nacido pela mão e pelo génio de Bissaya Barreto e projetado pelo arquiteto Cassiano Branco, integra desde 1959 o património da Fundação Bissaya Barreto, que tem como patrono este ilustre Professor.
Retrato vivo da portugalidade e da presença portuguesa no mundo, o Portugal dos Pequenitos é ainda hoje um referencial histórico e pedagógico de muitas gerações.

Para elé de ser um espaço de aproximação de culturas e de cruzamento entre povos, o Portugal dos Pequenitos é também uma mostra qualificada da arte escultórica e arquitetónica que, pela miniatura e pela minúcia, ainda hoje encantam crianças, jovens e adultos."
Além das representações dos países de língua oficial portuguesa, dos Arquiélagos (Madeira e Açores), de diferentes monumentos portugueses, de casas regionais..., podemos encontrar, também, a representaão do museu do traje, museu do mobiliário e museu da marinha.
Ficam aqui algumas fotos de uma pequena parte das representações possíveis de encontrar.


Guiné Bissau
Guiné Bissau
S. Tomé e Pincipe
Brasil
Arquipélago dos Açores


Arquipélago da Madeira

Representação do quarto de D. Carlos


Museu do Traje

Museu do Traje

Monumentos

Casa regional

Casa regional

Casa regional

Casa regional

Casa regional

Casa regional

Castelo

Casa regional

Casa regional

Casa da nora

Réplica de farol

Museu da marinha

Mapa dos descobrimentos portugueses

Macau

Índia

domingo, 25 de março de 2012

Amêndoas de Páscoa

Hoje foi dia de cozinha, outra vez.
Estive a fazer umas amêndoas.
Na semana passada fiz para oferecer aos alunos. Hoje é cá para casa.

Basta um pouco de água, açúcar e amêndoas...

Vai tudo para dentro do tacho (em quantidades iguais!)

Deixa-se ferver. 
 

 Até a calda começar a engrossar.

E começamos a mexer para não colar ao fundo.

 Entretanto o açúcar começa a ficar seco e acaba por secar mesmo.
.
Mexemos sempre até voltar a começar a caramelizar, mas não deixamos totalmente.

Retiramos do tacho e espalhamos em papel alumínio
Et... voilá!

Depois é provar.

Aqui estão os presentes dos mais pequenos.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

O sistema solar aos olhos dos mais pequenos II

Definitivamente, o planeta Terra é o mais bonito dos planetas!

A mistura do seu azul do mar, com o contraste do verde e castanho dos continentes, misturado com as nuvens, dá uma imagem de vida e de calma, simplesmente difícil de descrever.
É óbvio que esta calma é temporária até surgirem as primeiras dúvidas de 25 crianças com 8 anos (alguns já fizeram os 9).
- Professora, mas... o nosso planeta visto do espaço é mesmo assim?
- Assim como?
- Vê-se os oceanos e os continentes?
- Sim...
- Então mas lá em baixo a água não cai?
- Não.
(E lá volto eu a falar na história dos hímens que com a sua força nos permitem andar em cima da Terra)
- Sim, sim, sim.... já falaste nisso muitas vezes. Mas como é que as pessoas andam lá em baixo sem ser de pernas para o ar? É que eu pensava que nós estávamos dentro da Terra.
E lá vou eu pegar na bola de futebol que um dos miúdos tinha levado, improvisar um bonequinho, que vai andar à volta da Terra. Não me pareceram muito convencidos, mas não fizeram mais perguntas....

...
- Ó professora mas a Lua parece tão pequena...
- Não vez que a fotografia foi tirada de mais perto da Terra. (responde outro aluno(a))
- Foi professora?
(Mais uma vez descobri que não é fácil tomá-los por tolos. Quando acham que a história está mal contada, despacahm-se a procurar esclarecimentos)
- É verdade.

- Repara agora na Terra vista da Lua.
- Ai que fixe! Se eu pudesse andar ali de bicilceta, isso é que era!
- Mas sabes que não podes.
- Pois sei, mas isso é que é mau. Porque era mesmo fixe!


Planeta Vénus. Nem falei da história da deusa.
Apresentei uma breve descrição que falava dos seus muitos vulcões em erupção e aproveitei para, já que a mesma referia que 4/5 do planeta eram vulcões, para associar à matemática, uma vez que temos andado à guerra com as frações.
Bonito serviço!
- Ó professora aqula parte ali, que está mais clara, é a cratera de um vulcão, não é?
(Jesus Cristo!!!!!! Eles até vêem crateras! Até parece que estou numa exposição de pintura moderna em que as pessoas descrevem coisas nos quadros e eu apenas vejo borrões de tinta - Peço desculpa pela minha falta de cultura.)
- Não sei.
- Mas não estás a ver? Ali, à esquerda. Tem uma roda mais clara.

- Ó professora se eu colocasse a minha perna no planeta Vénus o que é que acontecia?
- Primeiro não conseguias aproximar-te do planeta, porque a nave onde irias acabava por derreter muito antes de lá chegar.
- Está bem, mas se eu chegasse lá, o que é que acontecia?
- Derretias.
- Assim, puf, mais nada?
- Sim.
- É mais quente que um vulcão?
- São muitos vulcões e está perto do Sol.
- Hum... era fixe!
(Bolas! Este fascínio deita-me abaixo!)

O sistema solar aos olhos dos mais pequenos

Falar dos planetas, dos astros e das estrelas é fascinante. Desperta nos mais pequenos uma curiosidade de perceber um desconhecido muito grande, que não nos passa pela cabeça.
As imagens a que temos acesso, quer nos manuais, quer na internet, são meras fotografias que não demonstram as verdadeiras dimensões.
Ora aí está! Pegar em imagens do planeta Terra e respetiva Lua e dar a perceber que é muito grande, a quem olha para uma fotografia e consegue ver tudo (acham eles!) é uma carga de trabalhos!

Perguntas que me fascinaram nestas aulas:
- Se o Sol é uma estrela, porque é que parece maior que as outras?
- Porque é a estrela mais próxima do planeta Terra.
- Então podemos viajar até ao sol!
- Não. O Sol é como que uma fogueira, mas tão grande, tão grande, tão grande, que não nos podemos aproximar.
- E se nos aproximarmos?
- Ficamos derretidos.
- Hum....
....
- Ó professora, então porque é que Mercúrio não derrete se está tão perto do Sol?
- Na imagem parece que está perto, mas está a muitos milhões de quilómetros de distância.
- A sério? Ai, não parece nada.
....
- Ó professora, mas se existem dois planetas antes da Terra, entre o Sol e o nosso planeta, como é que nós avistamos o Sol da Terra?
(Nesta fase, já eu pensava "oh diabo... no que eu me vim meter!")
- Ora vê lá tu! O Sol é uma fogueira tão grande, tão grande, que mesmo com dois planetas antes da Terra, nós ainda o conseguimos ver.
- Então se fosse possível eu estar em Plutão, que já não é planeta, eu também conseguia ver o Sol?
(Isto está bonito. Cada cavadela....)
- Provavelmente, se bem que muito mais pequeno do que o que consegues ver da Terra.
- Ah... então é mesmo gigante!
(Boa! ou não...)

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

"Ó professora, mas assim temos que ler tudo!"

Ler pode ser uma tarefa difícil e cansativa, principalmente para quem não gosta de ler.
No outro dia, por causa dos diminutivos e aumentativos, houve uns stresses por causa da palavra casa. O diminutivo até foi fácil de encontrar e escrever - "casinha" - mas o aumentativo, foi uma carga de trabalhos. A maioria dos alunos teve dificuldade em aceitar o -ão na palavra, de maneira que escrevem como aumentativo de casa - "casaram".
- Ó artistas, esta palavra é "casaram".
- Ó professora, estás enganada, é "casarão".
- Não! Da forma como escreveram é "casaram", ou seja, "O Filipe a Maria casaram no domingo passado".
- Ai.... então como é que se escreve?
- "casarão".
Entretanto já tinha uns quantos olhos capazes de me fuzilarem, preparados para me atacarem com a teoria do costume:
- É sempre a mesma coisa! Se escrevemos com -am no final, está mal porque é com -ão; escrevemos com -ão, também dizem que está mal porque é com -am. Ainda querem que a gente aprenda a escrever. Com tanta esquisitice, não é nada fácil!
Protestos à parte, lá fui explicando as diferenças com exemplos de palavras e como era feita a leitura das mesmas. Mas às tantas...
- Ó professora e se nós quisermos dizer que "eles casarão" no futuro.
- Nesse caso escreves com -ão.
- Mas assim a palavra é igual a "casarão", casa grande.
- A escrita, dizemos nós a grafia, é a mesma, mas o significado não.
- E como é que sabemos se é uma ou  outra?
- Tens que ler a frase e perceber o contexto.
-Ah... o contexto.
Entretanto, um dos mais espigadotes, reclama (mais um bocadinho):
- Perceber o contexto? Mas assim temos que ler tudo! Que chatice!

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Deixar o individualismo


Vamos lá construir um jardim bonito!
Vamos deixar o individualismo fechado a sete chaves.
Há uns anos falaram-me de troca de serviços. Pessoas que ofereciam os seus préstimos em troca de outros. Cada um faz aquilo para o qual se sente dotado e em troca recebe um favor feito por alguém que tem outros dotes.
É uma forma de partilha. Partilha social, é certo. É uma forma de sairmos do nosso casulo e ajudar os outros, recebendo ajuda em troca.
Utupia? Talvez.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

"Ó professora mas tu ainda tens avós?"

As coisas que nós descobrimos a trabalhar com crianças pequenas.
Enquanto uns nos acham velhos para ainda termos avós, outros acham-nos muito novos e tratam-nos pelo nome.
O que se passou hoje deixou-me, de certa forma, babada, apesar de ter consciência que para muitos colegas seria uma dor de cabeça!
Ao chegar à escola, depois do almoço, vêm duas alunas do 1.º ano (que não são minhas alunas) a correr na minha direção e a chamar pelo meu nome. Penduraram-se em mim a pedir o beijinho da praxe!
Acedi aos seus pedidos e continuei em direção ao edifício da escola. Passo a porta do mesmo e vem mais um aluno (agora rapaz), também do 1.º ano, a correr na minha direção e a gritar o meu nome. Cumprimenta-me com um acenar de cabeça, depois de me abraçar e segue o seu caminho.
Ganhei o dia com estas 3 crianças, que nem sequer são meus alunos.
Chego à sala e explico aos meus alunos que terei de deixar o telemóvel ligado porque estou à espera de uma chamada importante, dado que a minha avó foi para o hospital à hora do almoço.
Escândalo!!!!!! Não porque tenho que atender o telemóvel:
- Ó professora, nós percebemos. Isso não acontece todos os dias.
- É uma situação diferente. Vão-te telefonar para dar notícias.
Mas escândalo porque:
- Ó professora, mas tua ainda tens avós?
- Estás a dizer que eu sou velha?
- Não! Mas tu ainda tens avós?
Entretanto outros escândalizados com as perguntas do colega, já rematavam:
- Cala-te! Toda a gente tem avós, só que uns já morreram.
- Claro que a professora tem avós. Olha que pergunta!
Escusado será dizer que durante mais alguns minutos houve histórias de avós e netos, uns que ainda tem todos os avós vivos, outros que não conheceram os seus avós. Daí o escândalo. Se eles não conheceram os avós e são novos, porque é que a professora ainda tem avós?

sábado, 7 de janeiro de 2012

Dia de Reis

No dia 6 de janeiro comemorámos o dia de reis e como não podia deixar de ser, cantámos as famosas "janeiras".
Depois de explicarmos às crianças toda a tradição que envolve o cantar das janeiras, lá as ensaiámos para ir cantar às crianças do jardim de infância.
Pegámos na canção do Zeca Afonso, fizémos algumas alterações na letra e lá fomos para o jardim de infância.
No final da atuação, depois dos aplausos e respetivos agradecimentos, avisámos que íamos regressar à nossa escola e eis quando a admiração chega junto da minha colega.
- Professora, é só isto?
- Só isto, como assim?
- Cantamos e vamos embora?
- Sim.
- O quê? Ao menos uma fatiazinha de bolo-rei.

Pois é... o que esperávamos? Na explicação durante a manhã, dissémos que a tradição diz que vamos cantar de porta em porta e as famílias agradecidas oferecem um pequeno lanche.
Ora, pois claro, na cabeça de uma criança, depois de cantar tinha direito a comer, nem que fosse só uma "fatiazinha de bolo-rei".
Não quero ser ave agoirenta, mas parece-me que no próximo ano quando falarmos em cantar as janeiras, apenas iremos receber um zé povinho como resposta.